segunda-feira, 28 de abril de 2014

Influência dos Estados Unidos no golpe de 64.




Para entender o que fez os Estados Unidos a apoiar e financiar medidas que levaram ao golpe de Estado em 1964, é preciso analisar vários fatores.
O primeiro deles é o contexto mundial. O mundo estava em um período de constante tensão, a Guerra Fria, e dividido entre as duas grandes potências mundiais (URSS e EUA). A maior preocupação de ambas as partes era não perder áreas de influência, ou seja, territórios ao redor do globo e o Brasil seguia o modelo americano Capitalista.
Porém, em 1959 a Revolução Cubana foi vitoriosa, adotando assim o comunismo como regime e provocando grande impacto na América Latina. A partir de então o governo americano se preocupou seriamente em conter o avanço das tendências nacionalistas da economia a “infiltração comunista” no Cone Sul. Os Estados Unidos não poderiam deixar que a “onda comunista” tomasse conta também do Brasil, já que é o país de maior extensão territorial da América Latina, o que causaria um impacto ainda maior. 
Enquanto isso no Brasil, João Goulart assume a presidência do país, após a renúncia de Jânio Quadros. Durante seu governo, Jango propôs a realização das Reformas de Base, dando ênfase à Reforma Agrária, interferindo nos interesses dos grandes latifundiários da época (grupo que irá apoiar posteriormente o golpe militar). Recebeu críticas ao seu governo, pelos conservadores, por ter supostas características comunistas. Desde o momento de sua posse, representantes dos altos cargos militares se mobilizaram contra o governo e procuraram obter o apoio popular e a CIA (Agencia Central de Inteligência Americana) estava a par de toda a situação.
Ao colocar em prática algumas de suas medidas como presidente, João Goulart impulsionou também uma reforma eleitoral que daria o direito ao voto para os analfabetos. Aprovou a expropriação de várias empresas norte-americanas, entre as de maior destaque a Companhia de Energia Elétrica Rio-Grandense em Porto Alegre, filial da holding AMFORP, e a Companhia Telefônica Nacional, subsidiária do monopólio das telecomunicações ITT. Preocupada, a Casa Branca passou a manter contato direto com o embaixador americano no Brasil, Lincoln Gordon. “Já perdemos Cuba, não podemos perder também o Brasil” diziam os oficiais americanos.
Jango queria inserir o Brasil no cenário político mundial, intensificando as relações comerciais com todas as nações, incluindo as do bloco soviético, e aumentando o mercado externo para os produtos primários brasileiros. Em crescente contradição com a orientação americana da Aliança para o Progresso, desejava também ampliar a margem de autonomia tanto na formulação de planos de desenvolvimento como na aplicação de toda ajuda externa. 
O novo presidente do Brasil não era exatamente um revolucionário e como definia o embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Roberto Campos: "Goulart, com seu background de latifundiário, estava longe de ser o protótipo de um esquerdista radical. Mas estava sendo empurrado para a radicalização na perigosa esperança de cavalgar o tigre sem ser comido por ele".
Preocupados em deter o “avanço comunista” no Brasil os Estados Unidos, através da CIA e da própria Embaixada, passaram a colaborar ativamente com grupos anti-Goulart como o IPES (Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais) e o IBAD (Instituto Brasileiro para a Ação Democrática), financiando seu equipamento e propaganda. Começaram a usar a arma financeira contra o governo brasileiro afim de condicionar e forçar a modificação das políticas de Goulart. Passaram a negociar as concessões de fundos diretamente com os governadores estaduais brasileiros de oposição ao governo.
O embaixador Gordon admitiria mais tarde que os Estados Unidos investiu aproximadamente cinco milhões de dólares (outras fontes calculam entre 12 e 20 milhões de dólares) na missão de mudar a vontade eleitoral de parte significativa da população brasileira nas eleições de 1962, apoiados pela CIA e canalizados através do First National Bank of New York e do Royal Bank of Canadá.
No final de 1963 o Departamento de Estado sistematizou sua intervenção na situação interna brasileira para provocar a derrubada de Goulart. Segundo o embaixador Gordon, a preocupação norte-americana era que o "autoritarismo esquerdista" de Goulart pudesse provocar "um golpe mais radical e provavelmente dirigido pelos comunistas contra Goulart”, podendo também causar um efeito cascata para toda América Latina.
Verdade ou não, esta perspectiva precipitou uma sucessão de ações da diplomacia e da inteligência norte-americanas com a intenção de acelerar e orientar um golpe militar. Pontos decisivos neste rumo foram a designação como agregado militar da Embaixada em Brasília do General Vernon Walters, velho amigo pessoal do Marechal Humberto Castelo Branco, e o envio do emissário da CIA, Dan Mitrione, que recebeu como encargo a organização do contrabando de armas destinadas à formação de grupos paramilitares golpistas.
Os Estados Unidos utilizaram também os Programas de Assistência Militar (MAP) como instrumento de penetração política e ideológica nos estamentos militares. O Jornal do Brasil publicou, em dezembro de 1976, um telegrama confidencial de 4 de março de 1964, enviado pelo embaixador Lincoln Gordon ao Subsecretário de Estado Thomas Mann, no qual se dizia: "Nosso MAP é um fator altamente influente na adoção pelos militares (brasileiros) de uma atitude pró-E.U.A e pró-Ocidente... Como consequência, o Programa de Assistência Militar se torna um veículo essencial no estabelecimento de uma estreita relação com os oficiais das Forças Armadas". O mesmo documento qualifica os militares brasileiros como "um fator essencial na estratégia de conter os excessos esquerdistas do governo de Goulart..." e agrega sugestivamente: "As Forças Armadas não só têm capacidade para suprimir possíveis desordens internas, mas também para servir como moderadores nos assuntos políticos brasileiros...".
O golpe estava arquitetado e pronto para ser posto em prática. No dia 28 de março de 1964 se reuniram em Juiz de Fora, Minas Gerais, os generais Olímpio Mourão Filho e Odílio Denys juntamente com o governador do estado, Magalhães Pinto, visando estabelecer uma data para o início da mobilização militar para tomada do poder, a qual ficou decidida como 4 de abril de 1964. Mas Olímpio Mourão Filho não esperaria até abril para iniciar o golpe e no dia 31 de março tomou uma atitude impulsiva partindo com suas tropas de Juiz de Fora para o Rio de Janeiro por volta das três horas da manhã. O governo norte-americano acompanhou o movimento militar com a montagem da chamada "Operação Brother Sam", que incluiu a mobilização de uma força naval da sede do Comando Sul Norte-Americano no Panamá, para um apoio armado potencial. Uma comunicação ultrassecreta enviada pela embaixada norte-americana no Rio de Janeiro para o Estado Maior Conjunto nos primeiros dias de abril — poucas horas depois de realizado o golpe — aludia a um fardo de 110 toneladas de armas e munição, que permanecia pendente de uma determinação do Embaixador Gordon sob a necessidade de um eventual apoio norte-americano em favor das forças militares brasileiras. Segundo o mesmo documento, uma força de tarefas de transporte continuava sua marcha para o Atlântico Sul até onde houvesse certeza definitiva de que não seria necessário "uma demonstração de poderio naval". O próprio Embaixador Gordon reconheceu — muito mais tarde — a paternidade da ideia da "Operação". Mas não havia resistência organizada e a "Operação Brother Sam" foi suspendida. 
Consumado o golpe de estado, a cidade americana de Washington reconheceu o novo governo provisório do Marechal Castelo Branco em menos de 24 horas. João Goulart, ao se deparar com as tropas, também evitou uma guerra civil abandonando a presidência e se refugiando no Uruguai.

Fontes: 
O Dia Que Durou 21 Anos
           Artigo: Os Estados Unidos diante do Brasil e da Argentina: os golpes militares da década de 1960.  

Grupo: Gabriel Pestana, Helena Bernardes, Isabela Messias, Jéssika Fortes, Marcella Tavares e Victoria Naef.

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