segunda-feira, 9 de junho de 2014

Reação e Adaptação da sociedade na época da ditadura militar

Reação e Adaptação da sociedade na época da ditadura militar
Quase ninguém quer se identificar com a Ditadura Militar no Brasil nos dias de hoje. Sobre o período a memória adquiriu uma arquitetura simplificada: de um lado, a ditadura, o reino da exceção, os chamados anos de chumbo. De outro lado, a nova república, regida pela Lei, a sociedade democrática. Embora tenha desaparecido gradualmente, em ordem e paz, a ditadura militar foi e tem sido objeto de escárnio, de desprezo, ou de indiferença, estabelecendo-se uma ruptura drástica entre o passado e o presente, quando não o silêncio e o esquecimento de um processo, contudo, tão recente, e tão importante, de nossa história.

A ditadura, a grosso modo, produziu rupturas e desencadeou significativas alterações estruturais. Altas taxas de crescimento, expansão do produto industrial, ampliação da malha viária, mudanças na estrutura do emprego, fortalecimento do monopólio estatal na infraestrutura de serviços básicos, nas áreas das telecomunicações, energia elétrica, combustíveis. Em decorrência, patrocinou uma acelerada urbanização que provocou, em curto espaço de tempo, um imenso deslocamento de massas humanas, de uma ordem de grandeza pouco comum nos períodos normais da história.

Reproduziu-se de forma ampliada o domínio oligárquico e, com ele, o agravamento de todos os nossos grandes problemas sociais. A modernização autoritária provocou uma metamorfose que acentuou, ampliando o seu grau de complexidade, o quebra-cabeças de peças desencontradas da política brasileira.  Muitas estruturas empresariais e aparatos de poder, que estiveram no cerne da modernização autoritária e sobreviveram a ela, adquiriram feição madura no contexto da colaboração estreita com o regime militar. Depois, conseguiram transitar para o período pós-ditatorial apagando as marcas mais evidentes deste pecado original.
 Tais estruturas seguem atuantes em várias áreas. Nos anéis tecno-burocráticos que constituem as alavancas de poder político com os pontos fortes do poder privado, nas grandes empreiteiras, no agronegócio, no sistema financeiro, na indústria cultural de massas, nas forças armadas, nas polícias que utilizavam das armas para conter o povo.
A vitalidade do princípio-esperança

A cidadania, afastada do grande debate político e impedida da livre manifestação de seus anseios, se viu obrigada a retroceder até os limites mais elementares do tecido societário. Esse recuo compulsório terminou por se constituir em espaço de muitas descobertas. Nele, a sociedade civil desarticulada e “gelatinosa” se percebe como reverso do autoritarismo. A partir deste ponto, começa um processo no qual se resgata o sentido da construção de instrumentos de autoafirmação de uma sociedade civil renovada.

Dotados de alto poder de contágio, o pluralismo, a transparência e a autonomia com relação ao Estado e aos partidos políticos, todos em choque aberto, não apenas com o concreto da ditadura e também o duro autoritarismo foram elementos presentes na época.

Os novos agentes sociais subversivos, aos poucos, passaram da negação e resistência para o impulso positivo que projetou sua influência sobre o conjunto das práticas políticas.  O sindicalismo, por certo tempo, se renovou a partir das comissões de fábrica. As associações de moradores se organizaram em praças, revelando dimensões novas da cidadania. O feminismo deu os ares de sua graça, como expressão de uma presença distinta da mulher na sociedade. As associações de docentes provocaram transformação na estrutura de poder no interior das universidades. Um surto de associativismo, cultural, ecológico, anti-discriminatório, de luta por direitos dos sem-teto, sem-terra e tantos outros. Enfim, uma onda de novos movimentos da variada natureza que reconfiguraram a morfologia da estrutura social brasileira.

Foi de tal monta o impacto deste conjunto de lutas que, com o esgotamento do regime autoritário, mudou o eixo do debate sobe a questão democrática.  Democracia de massas, democracia direta, democracia de base, leituras diferentes para um mesmo fenômeno: a emergência do que se chamou, na época, de “nova cidadania”. 
A “transição intransitiva” e a “cidadania desencarnada”

O movimento das "Diretas-Já", com suas gigantescas manifestações de massas, apressou a derrocada da ditadura e conduziu o quadro político para um patamar novo.  A emenda das diretas, no entanto, foi derrotada no Congresso. As diretas não foram “já”, assim como a anistia não foi "ampla, geral e irrestrita".  O vetor resultante foi a escolha indireta de Tancredo Neves, que, por sua vez, agonizou e morreu antes da posse. Com isso, a ampla coalizão de veto ao regime militar foi hegemonizada, no governo Sarney, pela Aliança Democrática, no cerne da qual se articulavam os setores mais moderados da oposição e os segmentos recém-descolados do campo ditatorial.

A demanda por democratização substantiva da sociedade não conseguiu se apropriar dos aparelhos políticos do Estado. Com isso, a transição se definiu como "intransitiva" e seu ponto de chegada, remetido para além da linha do horizonte, é uma maratona sem fim. A “nova cidadania”, que foi protagonista de acontecimentos grandiosos, envelhece aos poucos como uma realidade apenas virtual. Opera por surtos, combina fugas, mas não consegue lugar no corpo degradado da política. 

Na greve de junho do ano passado, a presença massiva do povo nas ruas voltou a assustar os “donos do poder”.  A aspiração por mudança, recoloca o debate da política sob o signo da incerteza.  Neste quadro, a data redonda, meio século de uma “viagem redonda”, atualiza a reflexão sobre o conflito entre autoritarismo de matriz oligárquica e presença ativa do povo política. O padrão de mudança que restaura o domínio das oligarquias, que gerou a ditadura e, depois, aprisionou petistas na lógica conservadora, volta a ser reposta como questão essencial pelas demandas do presente. E é, também, uma das razões do retorno apaixonado aos idos de março e aos acontecimentos que marcaram os tempos do “Abaixo a Ditadura!”
Novilhos:
Tiago Rocha             Michel Moreira         Thiago Cristofolini
Thales Platon          Luiza Beck

Lucas Ibelli                 Jullia Pontes

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